Sunday, April 9, 2017

As Teses de Lutero (1517)

1. Nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo, ao dizer: Fazei penitência etc., quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
2. Não se pode entender este termo da penitência sacramental (ou seja, da confissão e satisfação repartidas pelo ministério sacerdotal).
3. Mas não se refere somente à penitência interior: pelo contrário, a interior não existe se não produz externamente diversas mortificações da carne.
4. Mantém-se, portanto, o castigo, enquanto dura o ódio de si mesmo (ou seja, a verdadeira penitência interior), isto é, até a entrada no reino dos céus.
5. O Papa não pretende nem pode perdoar nenhuma pena, fora das por ele, ou por prescrição canónica, impostas.
6. O Papa não pode perdoar nenhuma culpa se não declarando e confirmando que foi perdoada por Deus. A não ser nos casos a ele reservados, por cujo desaire permaneceria a culpa.
7. Deus não perdoa a nenhum homem as suas culpas, sem submetê-lo ao mesmo tempo e humilhá-lo em todo sacerdote, seu vigário.

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20. O Papa, portanto, por remissão plenária de todas as penas, não entende de todas sem rodeios, senão somente das por ele impostas.
21. Erram por conseguinte aqueles pregadores que dizem que pelas indulgências papais o homem fica livre de toda a pena e se salva.
22. Nem sequer às almas do purgatório pode ele perdoar aquelas das quais, em virtude dos cânones, devem ser absolvidas nesta vida.
23. De poder-se outorgar a alguém a remissão de todas as penas, é certo que isto se
concede apenas aos muito perfeitos, ou seja, a muito poucos.
24. Por isso tem de enganar-se a maior parte do povo, por aquela indiscriminada e magnífica promessa da remissão da pena.

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30. Ninguém pode estar certo da autenticidade da sua contrição, e muito menos de haver conseguido a remissão plenária.
31. Tão raro como uma pessoa com verdadeiro arrependimento é uma pessoa que em verdade beneficie das indulgências, ou seja, raríssimo.
32. Condenar-se-ão para sempre com os seus mestres os que por cartas de graças se crêem certos da sua salvação.
33. Toda a precaução é pouca ante os que afectam que as graças do Papa constituem aquele inestimável dom divino pelo qual se reconcilia o homem com Deus.
34. Com efeito, ditas graças absolutórias afectam somente às penas de satisfação sacramental estabelecidas pelo homem.
35. Não é cristã a prédica dos que ensinam que não precisam de contrição os que têm intenção de redimir as almas do purgatório e de beneficiar dos privilégios confessionais.
36. Qualquer cristão verdadeiramente arrependido obtém a remissão plenária de pena e culpa que, mesmo sem cartas de graça, se lhe deve.

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39. É muito difícil mesmo para os teólogos mais doutos exaltar ao mesmo tempo perante o povo a largueza das graças e a necessidade de contrição sincera.
40. Urna contrição sincera busca e ama as penas; a largueza das indulgências, pelo contrário, as desvirtua, e impele a sua repulsa.
41. Deve-se predicar com cautela as indulgências apostólicas, para que o povo não pense equivocamente que se antepõem às demais boas obras da caridade.
42. Deve-se ensinar aos cristãos que a mente do Papa não é que a redenção pelas indulgências se pode comparar sob nenhum respeito com as obras de misericórdia.
43. Deve-se ensinar aos cristãos que obram melhor dando ao pobre ou emprestando ao necessitado que tratando de redimir mediante indulgências.

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82. Por exemplo: por que o Papa não deixa vazio o purgatório em acto de santíssima caridade e em atenção à suma necessidade das almas motivos dos mais justificados -, se com o funesto dinheiro destinado à construção da Basílica motivo mais banal - redime infinitas almas?
83. De igual maneira: por que se mantêm as exéquias e aniversários dos defuntos, e [o Papa] não devolve ou permite retirar os benefícios instituídos em sufrágio dos mesmos, se é que é lícito orar pelos redimidos?
84. De igual maneira: que novo género de piedade em Deus e no Papa é a que concede ao ímpio e inimigo de Deus redimir a sua alma por dinheiro e tomá-la amiga de Deus e não, em troca, por caridade gratuita, à vista da necessidade da mesma alma piedosa e amada?

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92. Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz, paz e não é paz!
93. Bem hajam todos aqueles profetas que dizem ao povo de Cristo: Cruz, cruz e não é Cruz!
94. Deve-se exortar os cristãos a que tratem de seguir sua cabeça Cristo, pela pena, a morte e o inferno.
95. E assim confiem entrar no reino dos céus, mais por muitas tribulações que pela segurança da paz.

M. Lutero, Dísputatio pro declaratione virtutis indulgentiarum (1517).


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